segunda-feira, 11 de maio de 2009

O cheiro do ralo

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- Senta ai, é uma história comprida e eu vou tentar resumir pra você. Lá onde eu trabalho tem um banheirinho e eu tive um problema la com o ralo, começou a vir um cheiro ruim, um cheiro muito ruim. Eu comecei a ficar nervoso, irritado. Ai eu acho que comecei a descontar nas pessoas, na minha vida, sei lá.
- Por uqe o senhor não mandou consertar?
- Fui deixando passar.
- A vida é assim mesmo Seu Lourenço, a gente vai deixando as "coisa passa" e elas vão crescendo. No começo a gente não quer brigar porque é coisa poca né. Mas ai vai crescendo, crescendo... Que nem panela de pressão, uma hora explode.
- É isso mesmo... Quando eu comecei a trabalhar eu tinha que ser forte eu tinha que ser frio. Porque eu compro as coisas das pessoas e eu tinha que oferecer um valor bem baixo pra poder ter lucro. Mas no começo eu tinha pena das pessoas, mas eu não podia ter pena, se não eu não ia chegar onde eu cheguei. Ai eu comecei a ficar frio, cada vez mais frio, fui ficando cada vez mais frio.
- E o que o Senhor ganhou com isso sendo frio desse jeito?
- Não sei.
- É... Isso deve ser triste.
- Não sei se triste é a palavra certa.
- O Senhor quer mais um café?
- O Luzinete, eu vou aceitar viu.
- O Lourenço, aproveitar que a gente ta aqui conversando, tem oito anos que eu trabalho pro Senhor. Meu nome não é Luzinete não, é Josina.
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(trecho do filme "O cheiro do ralo")